15 de julho de 2012
O mecanismo de Anticitera
Utilizando técnicas de tomografia computadorizada e um sistema de imagens de alta resolução, um grupo de ingleses, americanos e gregos conseguiu recriar em detalhes o complexo sistema de engrenagens que forma o dispositivo e decifrar boa parte das inscrições gravadas nas peças. Concluiu-se que o mecanismo de Anticítera, descoberto próximo à ilha de mesmo nome, no litoral grego, é uma espécie de ancestral do computador moderno, um invento tão avançado para a época que nos dez séculos seguintes não se criou nada tecnologicamente tão elaborado. "O design do mecanismo é surpreendente e nos faz perceber quanto a civilização grega avançou no terreno da tecnologia", diz Mike Edmunds, professor de astronomia na Universidade de Cardiff e pesquisador-chefe do grupo.
As descobertas indicam que o mecanismo de Anticítera era constituído por, no mínimo, trinta engrenagens de bronze feitas a mão e organizadas de maneira a representar mecanicamente a órbita da Lua e de outros planetas do sistema solar. Em poucas horas, os astrônomos da época podiam prever a ocorrência de eclipses com anos de antecedência e representar a posição do Sol, da Lua e de planetas no céu. "A complexidade do aparelho supera a dos relógios, que só iriam aparecer nas catedrais medievais 1 000 anos mais tarde", surpreende-se Stephen Johnston, especialista em aparelhos de cálculos astronômicos da Universidade de Oxford. A história do mecanismo de Anticítera, desde sua descoberta, também ilustra a evolução das ferramentas de que os cientistas dispõem para descobrir segredos em artefatos arqueológicos.
Quando foi encontrado nas águas do Mediterrâneo, o mecanismo de Anticítera estava corroído pelo tempo e pela água salgada. Durante anos foi limpo e recuperado por arqueólogos. Do fim dos anos 50 ao começo dos 70, o dispositivo foi estudado em minúcias pelo cientista inglês Derek Price, que usou técnicas de raios X e, mais tarde, raios gama para examiná-lo. Price foi pioneiro em afirmar que o aparelho era mais do que um calendário lunar e solar. Para o cientista, o mecanismo de Anticítera era tão complexo que demandava uma revisão do que se sabia sobre o desenvolvimento tecnológico da Grécia antiga. Na época suas conclusões não foram bem recebidas por seus pares.
Pesquisas feitas com manuscritos de Arquimedes, usando técnicas semelhantes às que decifraram o mecanismo de Anticítera, revelaram novos dados sobre os trabalhos do famoso matemático grego. "De maneira geral, estamos descobrindo que os gregos tinham muito mais conhecimentos de ciência e tecnologia do que pensávamos", diz Reviel Netz, professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Funções
Trata-se de um complexo sistema de 37 rodas denteadas, ajustadas como rodas diferenciais (ver nexus externi), e três discos com inscrições em grego, 2.160 caracteres no total. O disco frontal tem duas escalas concêntricas; a externa marcava os dias do ano de 365 dias do calendário egípcio; um disco menor, interno, está dividido em graus e marca os signos do zodíaco. O primeiro disco tinha, possivelmente, três ponteiros que indicavam a data, a posição do Sol e a posição da Lua. Havia, ainda, um segundo mecanismo que mostrava, através de uma bolinha prateada, as fases da Lua. Supõe-se que havia um terceiro mecanismo, similar, para o Sol. Foram encontradas inscrições com o nome dos planetas Marte e Vênus (dois dos cinco planetas que os gregos e romanos conheciam) e outras que podem corresponder a certas estrelas; havia também, provavelmente, um mostrador para indicar a posição dos planetas e das estrelas.
Os dois discos posteriores, um superior e outro inferior, são constituídos por dois semi-círculos com dois centros, em forma de espiral. O de cima marca 235 meses do ciclo metônico de 19 anos, o que possibilita a construção de calendários. O disco de baixo mostra quatro ciclos de 19 anos, o que constitui o ciclo calípico de 76 anos, e registros da órbita da lua que podem ter sido usados, de acordo com o ciclo de Saros desenvolvido pelos caldeus, para a previsão de eclipses. A palavra "Olímpia" e o nome de outros festivais onde jogos atléticos eram disputados foram encontrados no disco do ciclo calípico.
O mecanismo parece ter sido planejado e construído para determinar posições astronômicas dos corpos celestes conhecidos pelos gregos — ele seria, portanto, uma espécie de planetário portátil. Quando uma data era introduzida por uma manivela, o mecanismo calculava a posição do Sol, da Lua e de alguns planetas e apresentava-as nos três mostradores. Aparentemente, era também possível prever eclipses.
Desde a época dos estudos pioneiros de Solla Prince (1959), iniciados em 1951, o mecanismo de Anticitera é considerado o mais antigo computador mecânico (ou analógico) do mundo.
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