Entrevistada do Mês: Ysabel Cristina, olhar de diamantes

Nome? 
Ysabel Cristina Soares.

Idade?
24 anos

Nasceu onde? 
Em Campina Grande, embora tenha morado em Jaboticabal-SP quando criança.

O que você faz no momento? 
Estou próximo de começar o 5º ano de Psicologia na UEPB e faço Licenciatura em Ciências Sociais na UFCG.

Como foi que escolheu seu curso? 
Ciências Sociais foi o primeiro curso que comecei... lembro que na época não sabia  quase nada sobre o que significava entrar nesse curso, tive poucas leituras sobre o que se tratava, coisas que eu lia na internet, etc, mas essas leituras me fizeram ter a certeza (naquele momento) de que era o que se aproximava do que eu mais queria. Tive uma forte atração por Antropologia assim que entrei no curso. Um ano depois, decidi fazer Psicologia, percebi que C. Sociais era para mim, de alguma forma, incompleto, precisava entender o homem do ponto de vista social, mas também um ser individual, parecia a união perfeita pra mim.

Qual a maior lição que uma universidade pode dar? 
Que ela não é quase nada do que imaginamos que seja. As aulas não são todas interessantes, não é local apenas para estudos, mas também para fazer grandes amizades, ter novas e importantes experiências. Os professores não são a fonte de saber absoluto e nós não saímos sabendo tudo o que precisamos saber para exercer uma profissão da maneira como sonhamos.

Quem você gostaria de questionar?Por qual motivo? 
Gostaria de questionar alguém muito sábio, não necessariamente idoso, mas alguém que teve uma história de vida cheia de altos e baixos e isso o transformou em uma pessoa tranquila, compreensiva sobre as coisas do mundo, principalmente as pessoas. Poderia  ser qualquer pessoa, de qualquer cultura ou condição social.

Gosta de fazer o que nas horas vagas? 
Gosto de observar alguma coisa interessante ao caminhar, refletir sobre algo. Adoro música, natureza, expressões no cotidiano de arte e filmes e sempre reservo um tempo pra ler algo que me interessa. Quando dá, escrevo pequenos textos, frutos de reflexões ou sentimentos que preciso exprimir. E gosto de estar com pessoas.

Um erro? 
Errar por não souber lidar com algum sentimento sobre algo ou alguém.

Como estão seus planos para o futuro?
Desejo o que quase todo mundo espera alcançar: um amor com sabor de fruta mordida e algum trocado para dar garantia (risos)

Um momento que vale a pena lembrar?
As pequenas viagens que fiz, as paisagens que vi nesses locais (adoro natureza) e as pessoas que estavam lá, fizeram toda a diferença.

Acredita nas pessoas, elas podem fazer um novo futuro? 
Acredito sim, aquela esperança distante de que as pessoas chegam ao momento em que decidem fazer algo positivo daquilo que fizeram dela - parafraseando Sartre. Mas é uma esperança viva.

O que te faz feliz?
Um olhar de cumplicidade, o abraço de algumas pessoas, a arte que se encontra mundo afora fruto do encontro de pessoas, do existir.

O que te deixa triste?
Abdicar de algo que desejo por outros motivos que não sejam os meus. Não conseguir aceitar certas coisas que vejo por aí e ter que conviver com elas.

Um sonho?
Publicar um livro que valha a pena ser escrito e lido. Ter um pouco de conforto e de paz, e poder me sentir plena, independente de onde estiver.

Fonte de inspiração?
Observar coisas  que se expressam em detalhes no dia-a-dia, conversar com pessoas, frases soltas, expressões... (não precisa ser nada intelectual, basta que seja algo que acrescente um sentindo, um pensamento), também uma música em determinado momento, um livro...

Um livro de cabeceira? 
Livros de poesias são os meus favoritos. Adoro a poesia porque ela representa a intimidade, a capacidade de metaforizar; é a possibilidade de deixar impresso livremente o que se tem a dizer de si a alguém, às vezes pra si mesmo, sem amarras, sem um começo-meio-fim maçante. Um bom livro é a Antologia Poética de Federico García Lorca, um dos meus amados poetas.

Uma frase? 
Faça com que aquilo que acredita ande o mais próximo possível do tipo de  vida que escolhe ter todos os dias.

Vida?
Uma vontade que permanece quando, muitas vezes, tudo parece acabado. O desejo de ver até onde se vai chegar.

Amor?
Existem diversas formas de amar e às vezes leva-se tempo para perceber que aquilo que sentia era amor, por alguém, por alguma coisa.

Respeito?
O respeito, muitas vezes mais difícil, no entanto, o mais necessário é o respeito que se aprende a ter pelo outro. Respeitar seus momentos, suas fraquezas, seus medos. Mesmo diante dos momentos em que você se vê diante do desejo de conquistar algo que depende de alguém e essa pessoa não tem o mesmo desejo que você.

Dignidade?
Não tem receita e não tem preço.

Família?
Fonte de aprendizagem. Sobre si e sobre o mundo.

Ódio?
Dizem que amor e ódio andam juntos. Mas às vezes nos surpreendemos quando percebemos que não conseguimos odiar alguém, mesmo quando temos motivos suficientes, outras vezes, que não era amor o que sentíamos por alguém, talvez no máximo, admiração.. ou prazer de estar na sua companhia.

Força de vontade?
Vem quando a gente menos espera, mas quando mais precisamos.

Qual sua ideologia?
No momento, aproveitar a vida da maneira que acredito que me cabe. Não há regras fixas e eternas.

Um luxo e um lixo?
Um luxo é poder, de vez em quando, tomar um café do jeito que gosto com alguma companhia agradável. Um lixo é ter a sensação de que não está aproveitando a vida, que poderia estar em outro lugar, fazendo qualquer outra coisa ou pior, com outras pessoas.

Um herói?
Não invisto muito na ideia de herois, é difícil colocar alguém no pedestal, afinal as pessoas cometem falhas e podemos mudar de opinião sobre elas. A ideia de que faço de um heroi é todo aquele que no seu dia-a-dia, cultiva um pouco de arte dentro de si, não de forma passiva, fagocitando toda gama de informação cultural que existe por aí, da mais popular e acessível à mais 'intelectual', 'erudita'; mas aquele que pensa e que produz alguma semente dentro de si mesmo que alimenta a vida diante de uma existência de tanto concreto (de asfalto mesmo, (risos)) que estamos sujeitos a nos reduzir por aí. Aquele/aquela que resiste à uma existência de mera reprodução intelectual e cultural; diferente de muitos que não dão sequer uma impressão pessoal de toda "vida" que colhem do mundo todos os dias, é um/uma heroi/heroína pra mim.

Qual a coisa mais inútil que existe? 
Muitas vezes, a televisão.

O que mudou em seu pensamento nos últimos 10 anos?
Nossa, o suficiente para me ver como uma pessoa mais tranquila, seletiva quanto a como aproveito meu tempo hoje em dia.
Liberação da maconha? É um tema muito polêmico, precisaria de abertura por parte das pessoas ao menos para discutir o tema seriamente, sem pânico pela simples ideia de falar sobre o assunto. Penso que a grande maioria fala bem mais em nome de um valor moral e cultural do que por si mesmas, não tendo indícios correspondentes à 'realidade da coisa' para se posicionar.

Corrupção?
A corrupção existe enquanto um comportamento em cadeia. Vai do micro no dia-a-dia, ao macro, as pessoas que escolhemos para exercerem cargos que nos representem politicamente. Não é nada simples de se resolver.

Qual sua religião?
Não tenho. Mas não desprezo ou nego a possibilidade da existência de algo para além do mundo concreto.

Aborto ate onde podemos ou devemos ir?
Opinar sobre qualquer tema polêmico é arriscado. Existem motivos pessoais, emocionais, assim como éticos, sociais. Você sempre corre o risco de ser taxado como sábio ou louco quando fala aquilo que no momento pensa sobre o assunto. É preciso admitir que nem sempre o aborto foi tratado pela sociedade (brasileira) da mesma forma. Houve tempos em que não havia concessões, nem para o caso de estupro ou risco de morte para a mãe. Se considerarmos como uma construção social, nada impede que num futuro não tão distante, seja aceito legalmente e/ou socialmente o direito de abortar quando um dos pais ou os dois não se sentirem capazes de prover tudo o que for necessário para ter uma criança, tanto do ponto de vista emocional e financeiro. No momento, só penso que o aborto é uma realidade para muitas mulheres todos os anos no Brasil, ocasionando mortes por complicações no ato, independente de ser uma prática legal ou de reconhecimento de todos.

Qual a sua idéia de preconceito? Tem algum? Como ele é formado?
Preconceito é algo complicado. O que consideramos preconceito hoje já pareceu perfeitamente "aceitável" tempos atrás. Não sei se dá pra estabelecer um pensamento ético e moral atemporal que estabeleça o que não passa  de uma ideia preconceituosa. Existe o preconceito dito e o não dito. A ditadura do pensar "correto", ou ao menos de "expressar" o que é considerado correto. Gerações inteiras exorcizando fantasmas de um passado não tão distante.

Como define-se, quem é você?
Gosto de pensar que parte de mim é, mas outra parte está. Às vezes por necessidade, às vezes pela incapacidade de me reconhecer de forma diferente. Talvez não devesse se perguntar "quem você é", mas  sim, "quem você está".





Um prazer conversar e conhecer essa pessoa maravilhosa, que encanta com um olhar!!!


Obrigado.